Roberto Padovani

São Paulo/SP
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Roberto Padovani

Economista pela USP, Administrador e Mestre em Economia pela FGV. Economista-chefe do Banco Votorantim. Acompanhou de perto a elaboração e implementação do Plano Real.


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Coronavirus: Desafio será evitar crise financeira


A piora acentuada no caixa das empresas e a falta de informação sobre a velocidade de contágio do coronavírus elevam o risco de uma crise financeira.

 

A economia mundial sofreu mais um novo e impressionante choque. Depois da desaceleração na China em 2018, do medo de recessão nos Estados Unidos e da guerra comercial em 2019, a surpreendente disseminação do coronavírus neste início de ano tem levado a uma rara, aguda e coordenada contração global.

 

Este choque, no entanto, possui uma característica marcante. Como ele interrompe o faturamento das empresas por tempo indeterminado, o risco financeiro das empresas tende a crescer e a ameaçar a sustentação do emprego em um ambiente já economicamente frágil.


A lógica é simples. As experiências chinesa e italiana mostraram que a melhor forma de evitar o colapso do sistema de saúde é promover o “distanciamento social”. O problema desta estratégia, no entanto, é seu custo econômico, uma vez que a paralização abrupta da atividade impacta a receita das empresas ao mesmo tempo em que as despesas são mantidas.


Agrava a situação outra característica deste choque, que é a profunda falta de informações. O fôlego financeiro das empresas está diretamente associado à duração da pandemia, algo desconhecido. Ainda que o caso chinês seja uma referência, não se sabe em que momento o contágio irá se estabilizar e permitir o relaxamento gradual do confinamento.


Em um cenário otimista, em que o padrão chinês de contágio e controle é seguido, a doença pode estar próxima ao pico na Europa e a duas semanas do pior momento nas Américas. No caso em que haja dificuldades em controlar o contágio, as restrições financeiras e de crédito devem alcançar o mercado de trabalho e prolongar a crise por meio da queda do consumo.


O problema é que sem parâmetros para antecipar com segurança os cenários, a confiança de empresários, consumidores e investidores tende a cair. Os mercados financeiros globais refletem este ambiente de incertezas. A volatilidade da bolsa norte-americana atingiu seu maior nível em 30 anos e os preços de commodities estão em seu patamar mais baixo em duas décadas. As bolsas mostram queda semelhante ao estouro das bolhas de tecnologia e de imóveis em 2000 e 2008. Em apenas um mês o S&P 500 perdeu 30% de seu valor.


Com as perdas no faturamento das empresas e na confiança dos agentes, o sistema bancário tende a proteger seus balanços por meio do endurecimento dos critérios de concessão, o que agrava o problema do acesso ao crédito. Nos Estados Unidos, em particular, as empresas mostram elevado endividamento e este novo choque pode ser o gatilho para novas tensões financeiras.

 

Em certo sentido, o vírus replica um ambiente recessivo, abrindo espaço para uma crise financeira. A diferença é que a origem do choque não produz de modo imediato uma destruição massiva do emprego. Apesar da destruição de riqueza, não há um estouro de bolha ou uma crise bancária que já tenha causado danos às empresas e ao mercado de trabalho. Além disso, a memória da recente crise bancária de 2008 tem permitido agilidade e assertividade nas ações de governo. Mesmo com maior limitação fiscal, os instrumentos monetários já estão sendo utilizados para preservar o caixa das empresas.


O desafio da política econômica, portanto, será proteger as condições de crédito para atenuar os danos financeiros e, com isso, evitar que o aumento do desemprego afete o consumo de modo mais duradouro, prolongando excessivamente os efeitos do choque do coronavírus.

 

Roberto Padovani

17.03.2020

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